O conceito de evolução é parte fundamental do pensamento contemporâneo. Diante de sua relativa simplicidade e importância, parece impossível que há muito tempo não fosse uma idéia corrente. No entanto, evolução é um fato muito recente em todo o pensamento científico, filosófico e religioso.

A antiga tradição ocidental não considerava a evolução. Tanto a tradição grega como a judaico-cristã não avaliavam a natureza, o ser humano e a vida sob a perspectiva de modificação ao longo do tempo.

O conceito de Evolução também não foi considerado na Idade Média. A religião, em particular, atribuía ao ser humano uma criação especial, um ato da vontade de Deus e símbolo de seu poder e sabedoria. Criado à imagem de Deus, o homem não poderia se modificar ou ser comparado aos animais. A natureza teria sido criada para servir aos homens. Predominava a idéia de um tempo anterior de grandes realizações, uma idade de ouro, e, a seguir, a decadência. A crença na expulsão do paraíso reforçava essa noção. O passado teria sido melhor.

Mesmo durante o Renascimento (séculos XV e XVI), considerava-se que, apesar da criatividade e inventividade reinantes, os antigos continuavam sendo uma referência, que estava sendo retomada, mas não superada.

Aos poucos, porém, a perspectiva de que os antigos poderiam ser superados e o mundo aperfeiçoado foi ganhando destaque com a Revolução Científica do século XVII e com o Iluminismo do século XVIII.

Somente a partir do final século XVIII e principalmente durante o século XIX o conceito de evolução foi difundido, provocando um impacto sem precedentes em todo o sistema de pensamento ocidental. Praticamente, não houve área do conhecimento que tenha deixado de sofrer influência desse conceito, e o Espiritismo não foi exceção. Codificada na época em que os trabalhos de Charles Darwin e Alfred Russel Wallace estavam recebendo grande divulgação, a Doutrina Espírita utilizou-se da evolução como um conceito chave para a compreensão da moral, da ética, do polissistema material e espiritual, da posição do ser inteligente diante da vida. Vale a pena ressaltar que Wallace, além de co-autor da teoria da evolução através da seleção natural, foi um grande estudioso do Espiritismo.

Evolução, portanto, é fundamental no conjunto de conceitos que compõe o Espiritismo. Sem essa idéia, o entendimento da Doutrina se torna prejudicado e grande parte de seu valor como ferramenta para o crescimento pessoal e social se perde. Quando se avalia o que os espíritas entendem por evolução, percebe-se uma grande quantidade de interpretações que são inadequadas e, muitas vezes, contradizem o próprio conjunto doutrinário.

Para muitas pessoas, evolução significa simplesmente progresso, modificação para melhor, de técnicas, de equipamentos, entre inúmeras outras coisas, numa perspectiva que valoriza mais os bens materiais. Uma crença ingênua que não considera obstáculos e dificuldades surgidos com a explosão tecnológica e as questões éticas.

Algumas vezes, evolução é considerada o caminho do comportamento adequado, com objetivo definido, geralmente revelado aos homens e para o qual todos devem convergir. Evoluir seria encontrar o caminho correto, o caminho único, a trilha. Evolução, considerada dessa maneira, é designada como unicista e linear.

A evolução também pode ser considerada como uma necessidade, um impulso interno em cada pessoa, ocorrendo de forma paulatina, indefectível e continuamente, quando, então, é conhecida como necessitarista e continuísta. Ou se pode considerar que evolução só ocorre quando seguidas as normas de comportamento ideal, determinadas externamente à pessoa e ao grupo. Ou ainda, considerar que evolução significa melhora em direção à perfeição representada pela natureza ou pela divindade.

Essas várias maneiras de abordar a evolução estão em contradição com o conceito de Livre-Arbítrio e, portanto, não podem ser consideradas como o entendimento adequado de evolução para o Espiritismo.

Para o Espiritismo, evolução e progresso não significam, necessariamente, a mesma coisa. Evolução não é simplista, não se limita aos aspectos materiais, mas envolve múltiplos aspectos, em um quadro de imensa complexidade.

Para a Doutrina, a evolução é pluralista, pois é considerada um processo aberto, com infinitas trajetórias possíveis. Não é linear, não há um caminho certo, mas tantos caminhos quanto o número de consciências que existem no Universo.

A evolução não é apenas individual, mas do grupo de pessoas, encarnadas e desencarnadas, ao qual se está ligado. Evoluir implica em mudar a mentalidade e a massa crítica do grupo social.

Evolução não se acaba, não se encerra, não há um fim, não há um lugar a ser alcançado, pré-determinado, aonde todos, necessariamente, terão que chegar. A evolução não é considerada continuísta nem necessitarista, pois o processo não depende de uma força propulsora interna independente. Depende, principalmente, da vontade e ocorre em diferentes intensidades, na dependência do empenho que cada pessoa apresenta no sentido de sua ocorrência. O espírito conhece mais (evoluiu mais) na medida em que assume atitudes que lhe propiciam mais experiências ou na medida em que se utiliza mais intensamente das situações que enfrenta.

Evolução, para a Doutrina Espírita, significa modificação de comportamento pelo acúmulo, associação e operação de experiências, conhecimentos, na medida em que os limites pessoais são ultrapassados, as potencialidades são desenvolvidas e ampliadas e as capacidades ou habilidades são colocadas a serviço das pessoas com as quais se convive.

Evolução é o objetivo da vida, significa ampliação da consciência de si mesmo, da consciência de sua ligação com todos os seres do Universo, da consciência do papel e da função que desempenha na estruturação inteligente do Cosmo e da consciência do significado de Deus.

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